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SERENA E THOMAS EM QUADRINHOS

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tesouros II...



Oi peoples! Eis-me aqui, cumprindo minha promessa de ontem. Segue abaixo, free, a crônica da minha irmã humana, a Babi, escrita na época em que ela fazia Jornalismo, na UFSC...




Motivos...

A extraordinária peregrinação de mais de três milhões de pessoas para o Vaticano devido à morte do papa João Paulo II fez com que eu lembrasse de uma história da infância de meu pai.
O ano era 1968, mas a provinciana realidade blumenauense estava muito distante da revolução cultural e sexual que agitava Paris, e se espalhava pelo mundo. Blumenau era um mundo à parte, e nesse mundo meu pai era uma criança de nove anos que, por uns trocados, ia todos os sábados ao cemitério ajudar uma viúva a lavar o túmulo do marido. A viúva, “Frau Poerner” (Frau Perna, como todos chamavam), 80 anos, era o que se podia encaixar no estereótipo “viúva rica”. Pelo menos assim parecia: bem vestida e maquiada – sempre com um vestido diferente – e com dinheiro suficiente para pagar um carro-de-aluguel (como chamavam os táxis), artigo de luxo na época. A devoção de Frau Poerner pelo falecido marido era comovente. O túmulo de Henry distinguia-se dos outros não apenas porque de mármore em meio a túmulos de cimento, mas também pelo brilho desse mármore, escovado toda semana, e pelas flores sempre naturais e trocadas antes de murchar. A devoção era grande, mas os 80 anos de Frau Poerner exigiam a ajuda de meu pai, que ficava encarregado de levar a água morro acima (como quase todos os cemitérios de Blumenau, ficava num morro) e de escovar a sepultura. Depois de tudo limpo, e de uns quinze minutos de orações, Frau Poerner e meu pai voltavam para o carro e iam para casa.

A devoção dos fiéis que se dirigiram à Basílica de São Pedro também era grande: a fila para ver o corpo do papa por apenas alguns segundos chegou a cinco quilômetros, e a espera, 24 horas. Quatro mil pessoas precisaram de assistência médica. O que motivou tanta gente a passar por isso? Devoção religiosa? Duvido muito. Para alguns milhares sim, mas muitos que estavam lá se autodefiniriam uma semana antes como “católicos não-praticantes”. O carisma de João Paulo II? Não sei... O papa era pop, mas tanto assim? Talvez todo o alarde da mídia em torno da sua doença e morte tenha estimulado as pessoas, provocado uma comoção maior. É uma hipótese. Mais de seis mil jornalistas fizeram a cobertura no Vaticano e 137 televisões de 81 países transmitiram o funeral. Até mesmo os novos canais 24h do mundo árabe cobriram exaustivamente o assunto. As pessoas talvez se sentissem fazendo parte da história. Não sei.

O que sei é que o que motivava meu pai a lavar o túmulo de Henry não era devoção religiosa. Ele até rezava junto de Frau Poerner, e quando ela chorava – para agradá-la – ele chorava também. Os trocados que recebia também não eram o motivo. O estímulo de meu pai era o carro-de-aluguel. Apesar de já terem passado 60 anos da popularização do automóvel com a produção em sério do Ford T, carros, em Blumenau, eram raros. A casa de Frau Poerner ficava dois quilômetros antes da de meu pai, e até hoje ele lembra extasiado das ordens que a viúva dava ao motorista: “Seu Acácio, leva o Mila pra casa.”
Meu pai, o Mila, sentava no banco da frente e abaixava o vidro. Sua casa ficava logo no início de uma rua sem saída, mas ele pedia pro seu Acácio fazer a volta no final da rua para que os moradores dos dois lados pudessem vê-lo desfilando. Era a sua glória. De braço pra fora e sorriso de orelha a orelha, só faltava acenar para os vizinhos, que em sua maioria, nunca tinham entrado num carro. Esperava ansioso pelo próximo sábado.


Show, né pessoas! O Mila já fazia e acontecia naquela época...acho que puxei a ele...

P.S.: Não encontrei uma foto de Blumenau, então postei esta, de Floripa...da varanda da Babi e do Dudu.
Lambidas alopradas a todos...

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